Dica de Leitura: O unitário


O ano é 1553. Da cidade italiana de Ancona, o jovem Benjamin e seu tutor, o médico e anatomista português Amatus Lusitanus (1511-1568) – ambos judeus portugueses convertidos ao cristianismo por força da Santa Inquisição – , são convocados a Roma pelo renomado artista Michelangelo Buonarroti (1475-1564) para um encontro secreto. Na capital da Igreja Católica, ambos são envolvidos em uma trama que levará Benjamin à França, ao Sacro Imperio Romano-Germânico e à atual Suíça, passando pelo ambiente de efervescência intelectual da Sorbonne e do Collége Royal, em Paris, e do Gymnasium, em Estrasburgo, e pelo regime rigoroso da Genebra governada por João Calvino (1509-1564), em busca de uma informação que pode alterar a história da medicina.

Resgatando a tradição do romance histórico, Pedro Puech mescla em O unitário personagens fictícios e históricos como Calvino, Michelangelo e o próprio Lusitanus, reconstituindo o ambiente acadêmico e político da Europa do século XVI; a tensão e a turbulência causadas pelas discussões teológicas inflamadas; e a perseguição movida por católicos e protestantes contra seguidores de doutrinas que ousaram questionar, entre outros dogmas, a Santíssima Trindade, como os unitários e os arrianos.

Neste cenário, um confuso Benjamin correrá riscos constantes e viverá uma jornada de medo, mas também de conhecimento, durante a qual irá se deparar com a vaidade levada a extremos por figuras como o médico do papa Julio III, Realdo Colombo (1516-1559); com a intransigência e firmeza de convicções na pessoa de Michel Servet (1511-1553), um cristão fervoroso que rejeitava a Santíssima Trindade, crendo em Deus como uma só entidade, motivo pelo qual era chamado – como outros – de “unitário”; e verá de novo a face da intolerância, assistindo a processo religioso semelhante ao que levou seu pai a arder na fogueira da Inquisição por se recusar a abandonar sua religião em favor do cristianismo, em Portugal.

Puech retrata em seu livro os dois lados da Europa renascentista, onde o humanismo e revoluções artísticas e científicas conviveram com a intolerância religiosa e regimes totalitários, tanto seculares quanto teocráticos. Seu protagonista guia o leitor por este período confuso, traçando o caminho até as origens de uma grande descoberta científica e ajudando a compreender alguns de seus personagens mais emblemáticos, como o anatomista, médico, teólogo e astrólogo Michel Servet, dando forma a um romance histórico que segue as pegadas do clássico O nome da rosa.

Fonte: Rocco

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